A segunda semana do III Simpósio da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (SBHSF) teve início nesta segunda-feira (14 de dezembro) com o tema “Sustentabilidade hídrica no semiárido”. A mesa-redonda “As condições climáticas e a convivência com a escassez hídrica” abriu a programação do quarto dia do evento.
O professor da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), Abelardo Montenegro, fez a primeira palestra da mesa-redonda com o tema “Convivência produtiva com a escassez hídrica”. O palestrante explicou que a bacia do Rio São Francisco possui graves cenários de escassez hídricas que tendem a se agravar no futuro, principalmente na região do Submédio e Baixo São Francisco. “Existem técnicas conservacionistas que podem ser implantadas para conservar a água e o solo, fazer a recuperação hidroambiental, aumentar a infiltração, reduzir a erosão, aumentar a umidade do solo e controlar a temperatura do solo”, afirmou.
Abelardo Montenegro mostrou que a escassez de água no semiárido pernambucano, associada à necessidade de produção agrícola contribuem para uso de efluentes domésticos tratados para fins hidroagrícolas. “Para a intensificação do reuso de água são necessárias ações de gestão participativa, principalmente aos jovens do meio rural, incentivando a permanência no campo. Realizamos um estudo com o objetivo de mostrar a viabilidade de cultivo agrícola com o reuso de efluente doméstico tratado, associado a práticas de conservação de água e solo, no semiárido. O CBHSF é um dos nossos apoiadores no projeto”, explicou.
O professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Montes Claros, Edson de Oliveira Vieira, apresentou as questões climáticas do semiárido e as ações voltadas para a segurança hídrica. “Boa parte da bacia do Velho Chico se encontra no semiárido. A região não constitui um espaço homogêneo, tampouco desértico ou impróprio à vida. Pelo contrário, apresenta alta diversidade ecológica, possuindo ricos recursos naturais”, afirmou.
Para o professor Edson Vieira, é preciso que se atente para o balanço entre oferta e demanda. “Os fatores de desequilíbrio de oferta hídrica, associados à ausência de planejamento e ações institucionais coordenadas e de investimento em infraestrutura hídrica e saneamento, desencadeiam cenários de insegurança hídrica e, no limite, a instalação de crises, tais como as que afetam não só a bacia do Rio São Francisco, mas o Brasil nos últimos anos”, esclareceu o professor que mostrou também ações que podem auxiliar na segurança hídrica da bacia do Velho Chico, aumentando a resiliência do sistema.
O professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Felipe Melo, finalizou as apresentações com o tema “Priorizações sócio ecológicas para restauração da Caatinga”. Ele mostrou que o bioma existe apenas no Brasil e é um patrimônio muito valioso. “Metade da bacia do rio São Francisco está situada na Caatinga, e grande parte das soluções de desenvolvimento regional passa por esse bioma. Apesar de toda sua importância ecológica, econômica e social, o bioma é ameaçado em muitas frentes, com consequências negativas para as populações locais. Em vista disso, é importante recaatingar, aproveitando todas as oportunidades para isso”.
A mesa-redonda foi moderada pelo coordenador do FIENPE e professor da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf), Renato Garcia.
Reuso da Água no Semiárido
O ex-diretor do Instituto Nacional do Semiárido, Salomão de Sousa Medeiros, apresentou palestra com o tema “Reuso da água no semiárido”.
A escassez de água tem conduzido à implantação de projetos de desenvolvimento no semiárido que têm como desafio a busca de alternativas de convivência com a seca que conduzam a melhorias sociais. Neste contexto, o reuso planejado de água apresenta-se como uma oportunidade de valorização da atividade agrícola na região.
Efluentes tratados de esgoto representam uma fonte de água e nutrientes disponível para uso em irrigação, mesmo durante os períodos de estiagem. Salomão Medeiros mostrou que o reuso de água é um importante componente da gestão de recursos hídricos, cuja prática ainda é incipiente no Brasil e sua regulamentação ainda é incompleta, nas escalas nacional e estadual.
“A intensificação dos processos de urbanização nas últimas décadas tem implicado no aumento da demanda de água para irrigação, abastecimento e diluição de esgotos, resultando em pressões cada vez maiores sobre os mananciais hídricos. O reuso de água pode trazer benefícios econômicos, sociais e ambientais para as comunidades em que se insere, sendo uma alternativa sustentável para o aumento da oferta de água. Esta prática pode ser um importante elemento do sistema de tratamento e disposição final de efluentes, diminuindo a carga poluente que chega aos corpos d’água”, esclareceu Salomão Medeiros.
O III SBHSF é uma realização do Fórum das Instituições de Ensino e Pesquisa da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (FIENPE), em conjunto com o Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF) e a Agência Peixe Vivo. O evento ocorre de forma online e pode ser assistido no canal do CBHSF no YouTube.
Assessoria de Comunicação CBHSF:
TantoExpresso Comunicação e Mobilização Social
*Texto: Luiza Baggio