O saneamento básico é um conjunto de serviços que impactam diretamente a saúde, qualidade de vida e desenvolvimento da sociedade. Apesar de sua importância, cerca de 2,2 bilhões de pessoas no mundo não têm acesso a serviços de água potável gerenciados de forma segura, 4,2 bilhões não têm esgotamento sanitário e 3 bilhões não possuem instalações básicas para a higienização das mãos. Na bacia hidrográfica do Rio São Francisco essa realidade não é diferente.
Sobre o assunto, conversamos com o engenheiro e professor da Universidade Federal de Minas Gerais, Marcos Von Sperling. Marcos vai conduzir a mesa-redonda intitulada “Impacto do saneamento na segurança hídrica”, no dia 23 de novembro, durante o III Simpósio da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco, e nos deu uma palhinha sobre o que será tratado lá.
Quase 100 milhões (53,15%) de brasileiros não têm acesso à coleta de esgoto em seus domicílios e os principais receptores desses resíduos são mares e rios. Quais os impactos para os corpos hídricos?
A mera ausência de coleta de esgotos causa um impacto na saúde pública localizado, por permitir que parte da população tenha contato direto com os esgotos que contêm organismos causadores de doenças. A ausência de esgotamento sanitário complete, composto por coleta, transporte, tratamento dos esgotos e drenagem, causa problemas ambientais onde eles são lançados. Os problemas são vários e são associados, além das questões de saúde pública, ao consumo do oxigênio dissolvido no corpo de água (essencial para a biota aquática), ao crescimento excessivo de algas (eutrofização), ao potencial lançamento de compostos tóxicos e outros.
O senhor participará da mesa-redonda “Os impactos do saneamento na segurança hídrica” no III SBHSF. Fale um pouco sobre o tema que será abordado.
Terei o prazer de moderar a sessão e buscarei coesão dentro dos debates. Acredito que os palestrantes discutirão a importância do saneamento, associado a boas práticas ambientais, que possam garantir a disponibilidade hídrica do ponto de vista da quantidade e da qualidade da água.
Quando se trata da população, a segurança hídrica tem que garantir que, para cada usuário, haja água em quantidade suficiente e em qualidade plenamente satisfatória nas perspectivas sanitária e estética.
A crescente urbanizac?a?o e as mudanc?as clima?ticas potencializam risco de inundac?o?es, secas e tempestades. Como essas mudanc?as podem afetar a capacidade e as operac?o?es de servic?os de a?gua e de saneamento?
A crescente urbanização vem trazendo problemas com a qualidade de vida nas cidades e com a dificuldade em se conseguir com que os serviços de infraestrutura acompanhem o crescimento populacional. A expansão da periferia urbana, com vilas e aglomerados sem urbanização definida, potencializa as dificuldades para o acesso, de forma universalizada, aos serviços de saneamento. As mudanças climáticas são uma realidade, e temos que nos aparelhar adequadamente para a alternância de períodos de seca, associados a crises hídricas, com os períodos de chuva, em que temos visto crescentes episódios de enchentes severas no meio urbano. O planejamento tem que ser sempre adaptativo, reconhecendo a dinâmica destes e outros fatores que têm aportado desafios extras aos órgãos envolvidos.
O senhor acredita que a falta de saneamento deixa a população carente mais vulnerável ao Covid-19, uma vez que a principal medida de combate é lavar as mãos regularmente com água e sabão?
A população está amplamente ciente da importância de se lavar as mãos com frequência e, portanto, temos que dar condições adequadas para tal. A água tem que ser fornecida, de forma universalizada, a todos, com especial atenção à população carente, pois grande parte dela, neste momento de dificuldade, não tem conseguido pagar as contas dos prestadores de serviços. Com relação aos esgotos, há indicativos de que o novo coronavírus está presente, embora não haja ainda comprovação de contaminação feco-oral, que é a principal rota de contaminação pelos agentes patogênicos presentes nos esgotos.
Em princípio, o coronavírus não traz um elemento adicional complicador para os esgotos. No entanto, devemos aproveitar a oportunidade dos holofotes colocados no coronavírus para demandarmos uma atuação plena na gestão adequada dos sistemas de esgotamento sanitário. Temos vários organismos patogênicos nos esgotos, causadores de doenças que já deveriam ter canalizado, há décadas e décadas, a priorização com o esgotamento sanitário pleno e universalizado, como garantia da qualidade de vida.
Assessoria de Comunicação CBHSF:
TantoExpresso Comunicação e Mobilização Social
*Texto: Luiza Baggio