Os efeitos das mudanças climáticas já são sentidos por todo o mundo, e cada região sofre, de forma particular, com os impactos. O semiárido brasileiro, de acordo com o engenheiro civil, doutor em Recursos Hídricos, Alfredo Ribeiro Neto, professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), já é apontado, juntamente com a Amazônia, como uma das regiões mais afetadas por este fenômeno.
O pesquisador, que coordena projetos de pesquisa com a temática de segurança hídrica com aplicações em estudos de secas e inundações, será um dos palestrantes na quarta edição do Simpósio da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco. Com o tema “Mudanças climáticas e seus impactos no semiárido – Monitoramento e perspectivas para o futuro”, Ribeiro deve apresentar o cenário atual do semiárido e reforçar questões que podem ser apontadas como vulneráveis diante das mudanças climáticas. “De forma imediata, o que se pode esperar é a intensificação dos eventos extremos com consequências diretas sobre a disponibilidade hídrica na região. A grande maioria dos reservatórios de armazenamento de água no semiárido foi projetada para garantir o suprimento de água por um ou dois anos com precipitações abaixo da média histórica. Em um cenário de agravamento dos eventos de seca, a infraestrutura hídrica atualmente existente pode não estar preparada para o enfrentamento dessa situação”, destacou.
Mesmo com a capacidade de se recuperar após longos períodos de estiagem, o enfrentamento às mudanças climáticas no Semiárido se apresenta como uma incerteza no processo de regeneração, o que pode também agravar e gerar, em maior escala, problemas sociais. “A vegetação do semiárido, a Caatinga, é reconhecida por sua resiliência e capacidade de se recuperar após períodos de escassez de água. No entanto, ainda não está claro como a Caatinga se comportará em um cenário de períodos de seca mais prolongados. De uma forma geral, não há um consenso dos modelos climáticos sobre o aumento ou redução da precipitação anual no semiárido. Entretanto, para os cenários mais pessimistas, verifica-se uma tendência para a redução de precipitação, o que acarretaria impactos sobre a vegetação e a aceleração do processo de desertificação. Nesse cenário, espera-se uma migração da população residente no semiárido, o que pode agravar conflitos sociais nas grandes cidades”, alerta.
Segundo o Laboratório de Análise e Processamento de Imagens de Satélites (LAPIS), cerca de 25% do território do Nordeste brasileiro apresenta algum nível de degradação, classificado por estado, nas categorias de degradação moderada, grave ou muito grave. Desse total, estima-se que 13% das terras já se transformaram em desertos.
Eventos extremos
Um dos impactos já esperados por especialistas para essa região, é a intensificação de eventos extremos de seca, especialmente eventos que se prolonguem por vários anos, como a estiagem ocorrida entre 2012 e 2017. De acordo com o pesquisador, um evento de seca com duração de seis anos não havia sido registrado anteriormente no Nordeste. “Estudos precisarão ser realizados para entender como os sistemas físicos e humanos responderão a essa intensificação”.
Mesmo sendo possível reverter o processo de mudanças do clima, ainda assim, segundo Ribeiro, haverá aumento da temperatura no século 21. “O planeta precisa de tempo para responder às alterações da concentração de gases do efeito estufa (GEE) na atmosfera. As mudanças possuem causas globais com impactos locais e para reverter o processo de alteração do clima, é necessário um pacto global para que acordos de redução da emissão de gases de efeito estufa entrem em vigor e sejam efetivos. Em um cenário otimista em que os países cumpram o acordo de Paris e haja uma redução das emissões, mesmo assim haverá aumento da temperatura no século 21, em virtude da inércia que existe no sistema climático global. É preciso adotar medidas para o desenvolvimento de capacidade adaptativa nos mais diversos setores como água, energia, agricultura, saúde, ecossistemas, cidades, dentre outros. A implementação de medidas de adaptação resultará no aumento da resiliência dos sistemas e, consequentemente, na redução da sua vulnerabilidade”, concluiu.
O IV Simpósio da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco – IV SBHSF, acontecerá nos próximos dias 14 e 16 de setembro de 2022, em Belo Horizonte. O evento vai congregar seis grandes eixos, metas do Plano de Recursos Hídricos do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF). São eles: Governança e mobilização social; Qualidade de água e saneamento; Quantidade de água e usos múltiplos; Sustentabilidade Hídrica no semiárido; Biodiversidade e requalificação ambiental e, por fim, Uso da terra e segurança de barragens.
A palestra Mudanças climáticas e seus impactos no semiárido – Monitoramento e perspectivas para o futuro acontecerá no dia 15 de setembro, segundo dia do Simpósio, a partir das 17:30h.
Assessoria de Comunicação do CBHSF:
TantoExpresso Comunicação e Mobilização Social
*Texto: Juciana Cavalcante
*Foto: Edson Oliveira