Criado em 2015 com o propósito de mapear a dinâmica de uso e cobertura da terra por biomas, o Projeto MapBiomas contribui com os cálculos de emissões de gases de efeito estufa realizados pelo Observatório do Clima para o Brasil e, após pouco mais de um ano em funcionamento, surgiram demandas de geração de produtos derivados, como recortes territoriais diversos e cruzamentos com vários temas, visando ampliar o uso dos mapas, além de outras iniciativas criadas, entre elas o MapBiomas Água que se propõe a mapear, quantificar e analisar os recursos hídricos superficiais em sua perspectiva histórica.
O MapBiomas utiliza um conjunto de imagens de satélite históricas da família de sensores LANDSAT, operados pela NASA (National Aeronautics and Space Administration – Administração Nacional da Aeronáutica e Espaço) e USGS (United States Geological Survey – Serviço Geológico dos Estados Unidos). O processamento é feito em ambiente computacional de nuvem sendo utilizadas técnicas de machine learning aplicadas a todo o acervo de imagens de satélite disponíveis desde 1985. O arranjo e governança do MapBiomas envolve organizações não governamentais (ONGs), universidades e empresas de tecnologia, especialmente startups, estruturadas por bioma/região ou por tema transversal. É desse modo que especialistas em temas regionais interagem com engenheiros de tecnologia da informação (TI) e cientistas de dados, resultando em entregas ágeis com qualidade assegurada pelo crivo científico dos especialistas.
Os dados de superfície de água produzidos pelo Mapbiomas são obtidos por aplicação de técnicas de classificação de imagens de satélite obtidas e distribuídas pela NASA e USGS e disponíveis no acervo da Google. Essas imagens são públicas e gratuitas. “Os produtos do Mapbiomas são lançados anualmente sob a forma de coleções, sendo que em cada nova coleção pode ocorrer melhorias metodológicas, incremento em categoria de dados mapeados, além de atualizar o mapeamento para o ano anterior ao lançamento. Por isso, a cada nova coleção é realizado o reprocessamento de toda a série, desde 1985, e os dados das coleções anteriores permanecem disponíveis como arquivos históricos. Quanto ao monitoramento das bacias hidrográficas, em linhas gerais, o que fazemos é restituir a história e trajetória de cada pixel da imagem, que corresponde a uma parcela de 30 x 30 metros no terreno, identificando o tempo em que permaneceram com água ou sem. Na perspectiva temporal é possível analisar esses dados e extrair tendências (de aumento, redução ou estabilização), eliminando as flutuações sazonais (períodos de estiagem ou de chuvas, periódicos ou estendidos). Uma vez extraídos, tais dados de monitoramento podem ser cruzados, correlacionados e/ou confrontados com outros dados ambientais, demográficos, socioeconômicos, etc, para subsidiar análises sobre a qualidade ambiental da BHSF e recomendar intervenções, se necessárias”, explicou o Diretor do Núcleo de Inovação Tecnológica (NIT), da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS) e coordenador do MapBiomas Caatinga, Washington Rocha.
Rocha será um dos palestrantes do dia 14 no Simpósio da Bacia Hidrográfica do São Francisco (IV SBHSF), data de abertura das atividades. Ele fará a palestra de tema “Monitoramento da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco por satélite: desafios e contribuições do MapBiomas para gestão e análise da sustentabilidade”, a partir das 17:30h.
Pensando nos desafios atuais e nas diferenças em relação a anos anteriores, o coordenador lembra que os algoritmos utilizados pelo MapBiomas foram refinados ao longo do tempo para produzirem dados sobre a dinâmica dos recursos hídricos de forma precisa e detalhada para toda a série histórica de 37 anos. “Hoje, além da permanente busca de melhoria na qualidade dos dados produzidos, há um esforço grande para incorporar ao sistema dados disponíveis em vários acervos públicos e privados, principalmente aqueles da Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA), permitindo agregar informações integradas e qualificadas, como medidas obtidas em estações hidrométricas e dados sobre a qualidade da água. Essa nova configuração vai dotar os gestores responsáveis por tomada de decisão, cientistas e a sociedade civil como um todo, interessados ou designados a atuar no âmbito da BHSF, de instrumentos essenciais ao desempenho de suas atividades, possibilitando melhores resultados e uma contribuição mais efetiva para o planejamento e solução de problemas na bacia hidrográfica”.
Além de produzir dados e informações precisas, detalhadas e de qualidade, o MapBiomas se destaca por criar um modelo para distribuição e acesso aos dados. “Desde a disponibilidade de consultas em tempo real, utilizando nossos dashboards cada vez mais inteligentes, há diversas formas alternativas de acesso, desde a realização de downloads diretos, tanto de planilhas de estatísticas ou de dados brutos, inclusive georreferenciados, até a disponibilidade de APIs para transferência automática de dados para outros sistemas corporativos. Todas essas facilidades e simplicidades vem contribuindo com a gestão territorial em diversos recortes e finalidades: prefeituras, comitês de bacias hidrográficas, consórcios de municípios, dentre outros, passaram a dispor de meios confiáveis, de qualidade, acessíveis e gratuitos, para dar suporte a grande parte de suas atividades”, destaca pontuando ainda que ainda assim, também há preocupação contínua em dispor repositórios de dados adequados e seguros ao crescente volume de dados. “A cada nova coleção, é preciso assegurar meios fáceis e intuitivos de acesso. Assim, tanto a plataforma de dados vem sendo continuamente revista, como têm sido criados plug-ins para importação dos dados do MapBiomas para os principais softwares desktop de SIG, a exemplo do QGIS. Mas não podemos deixar de citar a necessidade contínua de financiamento para que toda essa estrutura seja mantida e funcione bem, uma vez que o MapBioma não realiza cobranças por acesso e uso dos seus produtos”.
Rocha conclui revelando que está em desenvolvimento um monitor de alertas para água, com periodicidade mensal, que deve complementar o sistema de monitoramento apontando em tempo quase real o agravamento de condições emergenciais na bacia (estiagem prolongada ou risco de inundação).
Assessoria de Comunicação do CBHSF:
TantoExpresso Comunicação e Mobilização Social
*Texto: Juciana Cavalcante
*Foto: Juciana Cavalcante